domingo, 26 de junho de 2011

livros.

No livro O Quarto de Jacob de Virginia Woolf uma bela descrição sobre ... livros.

"Aprecio livros, cuja virtude está concentrada numa página ou duas. Aprecio frases que não se movem, ainda que assoladas por exércitos. Aprecio palavras duras - tais eram os pontos de vista de Bonamy, que lhe conquistaram a hostilidade daqueles cujo gosto se volta inteiro para as vegetações frescas da manhã, que erguem a janela num ímpeto e encontram as papoulas espalhadas ao sol, e não conseguem conter um grito de júbilo diante da espantosa fertilidade da literatura inglesa." (pág. 152)

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Felicidade;

Do conto Felicidade do livro Contos Completos.
Com você a reflexão sobre a Felicidade de VW.

"Totalmente sozinho", repetiu mrs. Sutton. E disse que era isso que ela não podia entender, num desesperado arremesso de sua cabeça coroada por cabelo escuro brilhante - ser feliz estando totalmente só.
"Sim", ele disse.
Na felicidade há sempre essa exaltação espantosa. Não é animação; nem arroubo; nem louvor, celebridade ou saúde (ele não conseguia andar três quilômetros sem se sentir estafado), é um estado místico, um transe, um êxtase que, embora ele fosse ateu, cético, não batizado e tudo mais, tinha, suspeitava, certa afinidade com o êxtase que transformava homens em padres, que levava mulheres no vigor da mocidade a se arrastar pelas ruas com rufos engomados que mais pareciam ciclames rodeando seus rostos e lhes empedrava os olhos e os lábios; mas com uma diferença; àqueles, isso aprisionava; a ele punha em liberdade. Deixava-o livre de toda dependência de qualquer um e qualquer coisa. (pág. 254) 

segunda-feira, 6 de junho de 2011

América do Sul

Do livro A Viagem um trecho sobre a América do Sul que pode ser violenta como dizem mas continua bela.

Com vocês a América do Sul de VW.

" Um depois do outro, saíram todos para o espaço plano no topo e pararam ali, tomados de admiração. Contemplavam um espaço imenso diante deles - areias cinzentas transformando-se em floresta, floresta fundindo-se em  montanhas e montanhas lavadas pelo ar - as infinitas distâncias da América do Sul. Um rio cruzava a campina, plano como a terra e parecendo parado. O efeito de tanto espaço era bastante assustador no começo. Sentiram-se muito pequenos, e por algum tempo ninguém disse nada. Evelyn então exclamou: - Esplêndido." (pág 204)

sábado, 4 de junho de 2011

As flores de Mrs. Dalloway

O personagem Clarissa Dalloway do livro Mrs. Dalloway apareceu a primeira vez no primeiro livro de Virginia Woolf (A Viagem).
É um personagem so charming!
Com vocês as flores de Mrs. Dalloway:

"Mrs. Dalloway disse que ela própria iria comprar as flores.
Quanto a Lucy, já estava com o serviço determinado. As portas seriam retiradas dos gonzos; em pouco chegaria o pessoal de Rumpelmayer. Mas que manhã, pensou Clarissa Dalloway - fresca como para crianças numa praia!
Que frêmito! Que mergulho! Pois sempre assim lhe parecera quando, com um leve ringir de gozos, que ainda agora ouvia, abria de súbito as vidraças e mergulhava ao ar livre, lá em Bourton. Que fresco, que calmo, mais que o de hoje, não era então o ar da manhãzinha; como o tapa de uma onda; como o beijo de uma onda; frio, fino, ..." (pág. 11)

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Teatro!


O livro Entre os Atos (acho que o último de Virginia Woolf)  trata-se da representação de uma peça de teatro. Sexta tem um clamor para o teatro, não acham?

Com vocês Entre os Atos de VW:
"As notas musicais se extinguiram.
Era esse o final? Os atores relutavam em partir. Retardavam-se, misturavam-se uns aos outros. Budge, o policial, conversava com a Rainha Elizabeth. A Idade da Razão confraternizava com a parte dianteira de um burrico. E a Sra. Hardcastle abria as dobras de sua saia de crinolina. E a pequena Inglaterra, ainda criança, chupava uma pastilha de hortelã. Todos representavam o papel ainda não representado que lhes era conferido por seus trajes. Eram belos - e a beleza os revelava. Seria efeito da luminosidade? Dessa luz branda, fanada, cândida mas penetrante do entardecer, que revela profundezas na água e torna radiantes até mesmo os tijolos alaranjados de um bangalô?
- Vejam - sussurrava a plateia. - Vejam, Vejam. - E aplaudiram mais uma vez; os atores juntaram as mãos e curvaram-se.
A velha Sra. Lynn Jones, procurando sua bolsa suspirou:
- Que pena... Eles têm mesmo de mudar de roupa?
Mas estava na hora de arrumarem tudo e partirem."  (Pág.140)

quinta-feira, 2 de junho de 2011

uma dama da moda por VW

No livro O Quarto de Jacob Viriginia Woolf dá sua opinião sobre uma dama da moda.

"Uma dama da moda viaja com mais de um vestido, e se roupas brancas combinam com as horas matinais, talvez amarelo-areia com bolas púrpura e chapéu negro, e um volume de Balzac, combinem com com a noite. Era assim que ela estava vestida no terraço, quando Jacob chegou. Estava linda. Meditava com as mãos cruzadas, parecia escutar o marido, parecia observar os camponeses descendo com lenha às costas, parecia notar que a colina mudava de azul para negro, parecia discriminar entre verdade e falsidade, pensou Jacob, que, de repente, cruzou as pernas, notando como suas calças estavam puídas.
- Ele tem um ar muito distinto, decidiu Sandra." (pág. 157)

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Noite de Festa

Do livro Contos completos de VW.

Com vocês Noite de Festa!
"Ah, mas vamos esperar um pouco! - A lua está no alto; o céu, aberto; e lá, erguendo-se numa elevação contra o céu, com árvores por cima, está a terra. As nuvens prateadas e fluídas contemplam ondas do Atlântico. Na esquina da rua, o vento sopra leve e me levanta o casaco, estendendo-o delicadamente no ar antes de o deixar curvar-se e cair, como o mar que agora engrossa para rebentar nos rochedos e depois se afasta de novo....
Doce é o ar da noite. As criadas deixam-se ficar ao redor da caixa de correio ou namoram na sombra da parede onde a árvore derrama sua chuvarada escura de flores. Tal como na casca da macieira as mariposas tremem sugando açúcar pelo longo filamento negro da probóscide. Onde estamos? Que casa pode ser a casa da festa? Todas essas são pouco comunicativas, com suas janelas cor-de-rosa e amarelas. Ah - dobrando a esquina, ali no meio, lá onde a porta está aberta -, espere um momento. Vamos observar as pessoas, uma, duas, três, que se precipitam na luz como mariposas vão de encontro ao vidro de uma lanterna que ficou no chão da floresta. Eis um táxi que passa depressa para o mesmo local. Dele desce uma dama volumosa e pálida, que entra na casa; um senhor vestido para a noite, em preto e branco, paga ao chofer e a segue, como se ele também estivesse muito apressado. Venha, porque senão nos atrasamos..." (pág. 126)
" A sala está repleta de figuras vividas, contudo insubstanciais, que se postam eretas à frente de prateleiras listadas por inumeráveis volumezinhos; cabeças e ombros maculam quinas de molduras quadradas com douração; e a massa de seus corpos, lisos como estátuas de pedra, conglutina-se contra uma coisa cinzenta, tumultuosa, brilhante também, como que tendo água dentro, além das janelas sem cortinas." (pág 126)